terça-feira, 24 de agosto de 2010



"Sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo conduzia a um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações..."

Eça de Queiroz

segunda-feira, 16 de agosto de 2010


Celebro-me e canto-me
Vagueio e convido a minha alma.
À vontade vagueio e inclino-me
a observar a erva do verão.
Eu, aos trinta e sete anos, de perfeita saúde começo.
Esperando que só a morte me faça parar.


Walt Whitman (Song of Myself)

sábado, 7 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


Quase não era canto, no sentido em que este é aproveitamento musical da voz. Quase não era voz, no sentido em que esta tende a dizer palavras. O canto flamenco é antes da voz ainda, é fôlego humano. Uma palavra ou outra às vezes escapava, revelando de que era feita aquela mudez cantada: de história de viver, amar e morrer. Essas três palavras não ditas eram interrompidas por lamentos e modulações. Modulações de fôlego, primeiro estágio de voz que capta o sofrimento no seu primeiro estágio de gemido. E de grito. E mais outro grito, este de alegria por se ter gritado. Em torno, a assistência aconchega-se escura e suja. Depois de uma das modulações que de tão prolongada morre em suspiro, o grupo esgotado como o cantor murmura um Olé em amém.

Clarisse Lispector